Tatuador há 40 anos, Francisco Russo, o Tino, lembra-se do início da carreira, quando a profissão ainda era muito associada às drogas e à marginalidade. Ele afirma que a persistência, a iniciativa de evoluir artisticamente e a disseminação da cultura da tattoo na televisão e entre os artistas nos anos 90 foram fatores determinantes para que a sociedade se tornasse mais flexível em relação ao tema.
A família sempre o apoiou mesmo nos tempos mais conservadores. O pai era gráfico e trazia os materiais necessários. Para ele, o aumento do fluxo de informações nos tempos modernos tem contribuído para a busca de referências que possam inspirar o trabalho dos tatuadores. “Antigamente, as informações eram basicamente literárias. Hoje, dificilmente encontramos livros nos estúdios de tatuagem, tudo está digitalizado. Ainda que tenhamos uma biblioteca maravilhosa, muitas vezes ela não é usada”.
Entre 1991 e 1995, realizou trabalhos na Europa, onde trocou experiências e praticou o garimpo de desenhos e referências interessantes. Ao longo da carreira, já enfrentou casos quase inacreditáveis, como tatuar uma barata em uma pessoa que tinha fobia do inseto. Ainda que seja uma reprodução, o artista afirma que só tatua quando se sente à vontade com o desenho. “Uma cópia é diferente de uma criação. Mas alguns clientes adotam um discurso irredutível e não aceitam sugestões”.
O tatuador destaca a importância de o cliente se identificar com a imagem escolhida. Para ele, quando isso acontece, parece que o cliente já possuía a tatuagem, ele apenas colocou ela para fora.
Com a experiência, Tino acredita que se tornou mais criterioso e não hesita em recusar trabalhos que ele não acredita que terão um resultado satisfatório.
A parceria e amizade de 20 anos com Sérgio Maciel é classificada por ele como um casamento que deu liga, uma relação baseada em ideais compartilhados. “Nunca tive a ambição de ter a minha própria loja. Tá tão gostoso trabalhar assim, tanto é que dividimos a sala há 20 anos”.